O grande volume de informações de conversas e mensagens encontrado no celular do fundador do Banco Master, Daniel Vorcaro, deve impedir que a acareação dele com um diretor do Banco Central e um ex-dirigente do BRB seja realizada na 3ª feira (30.dez.2025). O mais provável é que uma mesma delegada da Polícia Federal, Janaína Palazzo, ouça cada um deles separadamente nesta fase. E que os 3 fiquem frente a frente só em 2026.
A ideia do ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), era fazer o quanto antes a acareação entre Daniel Vorcaro, Ailton Aquino (diretor de Fiscalização do Banco Central) e Paulo Henrique Costa (ex-presidente do BRB, banco estatal de Brasília e que quase comprou o Master). Ele pretendia, ainda, ouvir os envolvidos separadamente para, em seguida, confrontar as versões sobre o processo de liquidação extrajudicial do Banco Master.
O magistrado foi alertado pela PF (Polícia Federal), entretanto, que o volume das informações que foram obtidas na operação Compliance Zero (de 3 de setembro de 2025) era muito grande. Possivelmente, a eficácia da acareação seria menor do que desejava Toffoli.
O ministro aquiesceu e disse à Polícia Federal que tomasse depoimentos separadamente dos 3 que seriam acareados. Essas inquirições serão feitas pela delegada Palazzo. O processo começa às 14h e possivelmente não haverá condições para organizar o roteiro da acareação para o mesmo dia.
O mais provável, segundo apurou o Poder360, é que na 3ª feira sejam só tomados os depoimentos de cada 1 dos 3 que seriam acareados. A PF já fará perguntas para esclarecer alguns detalhes das informações encontradas em equipamentos apreendidos pela Compliance Zero. A acareação deve ser realizada, dessa forma, só no início de janeiro.
Uma informação já processada entre muitas outras é que Daniel Vorcaro não tinha em seu celular nenhum documento relevante assinado por ele próprio. O fundador do Master (banco que foi liquidado extrajudicialmente pelo BC) colocava prepostos para assinar. Para a PF, essa cautela não exime Vorcaro de responsabilidades por eventuais irregularidades, sobretudo porque será levado em conta o conteúdo das transcrições que deram ordem para documentos serem assinados. E há, também, a localização dos celulares por antenas das companhias telefônicas quando as ordens foram dadas.
Toffoli queria acelerar o processo de apuração e ficou satisfeito que, pelo menos, os depoimentos dos 3 serão tomados na 3ª feira. Pelo ritmo que o caso andava, nada de prático seria realizado até 2026. Agora, tudo começou a ser processado numa velocidade maior.
Toffoli decretou sigilo sobre as investigações e concentrou a documentação no Supremo. O inquérito apura responsabilidades relacionadas à liquidação do banco, decretada pelo Banco Central. Segundo informações do BC, haveria cerca de R$ 12 bilhões em créditos sem lastro no balanço da instituição –acusação que o Banco Master nega.
A acareação havia sido determinada pelo ministro Dias Toffoli por iniciativa própria. A medida não partiu de pedido da Polícia Federal. O ministro busca esclarecer as providências adotadas por cada agente envolvido até a decisão de liquidação extrajudicial.
Em 28 de março, o BRB anunciou a intenção de adquirir o Banco Master, operação que envolveria cerca de R$ 50 bilhões em ativos, correspondentes a 49% do capital votante e 58% do capital total. O Banco Central vetou a operação em 3 de setembro de 2025.
Em 18 de novembro, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Master. No mesmo dia, a PF deflagrou a operação Compliance Zero e prendeu Daniel Vorcaro e outros dirigentes da instituição.
Vorcaro foi solto em 29 de novembro por decisão da juíza federal Solange Salgado, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região). Ele cumpre medidas cautelares, incluindo uso de tornozeleira eletrônica.
No sábado (27.dez), Toffoli negou recurso apresentado pelo Banco Central no dia anterior. A autarquia solicitava esclarecimentos, entre eles, sobre a condição em que seu diretor de Fiscalização seria ouvido –como investigado ou testemunha.
Na decisão, o ministro declarou que Ailton de Aquino Santos não é investigado e que o Banco Central também não figura como alvo do inquérito. Eis a íntegra (PDF – 79 kB).
“Deixo de conhecer dos embargos, posto que nem a Autoridade Central Financeira Brasileira nem o diretor da Autarquia são investigados”, escreveu.
Toffoli justificou a urgência das oitivas em razão do impacto dos fatos apurados sobre o sistema financeiro. Disse ainda que a participação do Banco Central é relevante para o esclarecimento do caso, por envolver a atuação da autoridade reguladora.
O Poder360 apurou que o BC considera a acareação uma “armadilha processual”, com potencial de “constrangimento” para a autoridade monetária do país. O recurso com pedido de esclarecimentos, agora negado, tinha 4 dúvidas centrais:
Ailton Aquino Santos foi indicado ao cargo de diretor do Banco Central pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023. Teve o nome aprovado pelo Senado em 4 de julho daquele ano, por 42 votos a 10, com 1 abstenção.
Em 17 de novembro de 2025, Aquino participou de videoconferência com Daniel Vorcaro, registrada na agenda oficial do Banco Central. A reunião contou também com dirigentes da área de Supervisão Bancária e foi classificada como fechada à imprensa. Naquele período, repercutia o anúncio da venda do Master à Fictor Holding Financeira.
No dia seguinte, 18 de novembro, Vorcaro foi preso pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Um ofício interno do Banco Central, que descreve a reunião, passou a integrar a defesa do fundador do Master. Os advogados alegaram que Vorcaro havia informado ao regulador sobre a viagem internacional, argumento utilizado para contestar o risco de fuga.
A juíza Solange Salgado acolheu a tese e substituiu a prisão por medidas cautelares.


