Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o venezuelano Nicolás Maduro conversaram por telefone sobre a situação política da América Latina e do Caribe e buscaram reforçar compromissos de criar uma estabilidade na região.
A ligação se deu na semana passada. Interlocutores do Planalto afirmam que Lula e Maduro ainda não haviam falado diretamente neste ano.
Segundo integrantes do Planalto, a conversa teve caráter institucional e buscou distensionar ruídos acumulados entre Brasília e Caracas. Os 2 presidentes discutiram iniciativas para “preservar a paz regional”.
Diante da ofensiva de Donald Trump (Republicano) na Venezuela, Lula tem repetido que a América Latina e o Caribe devem ser uma zona de paz e que o Brasil está disposto a ser um mediador em conflitos quando convidado pelas partes envolvidas.
A posição brasileira prioriza a negociação e a diplomacia multilateral: evita intervenções militares e busca reduzir tensões por meio de canais institucionais e negociações diretas entre governos.
Na mesma semana, Lula também conversou com o presidente dos Estados Unidos. No diálogo, o presidente brasileiro destacou a urgência de ampliar ações conjuntas contra o crime organizado, citando operações no país para “asfixiar financeiramente” facções e rastrear suas ramificações no exterior.
O governo brasileiro fez um comunicado oficial sobre a conversa com o republicano, mas não divulgou a ligação entre Lula e Maduro. A informação foi antecipada pelo O Globo e confirmada pelo Poder360.
Trump elevou a tensão na crise venezuelana ao sugerir, novamente, a possibilidade de expandir as operações militares contra o regime de Nicolás Maduro para ações em terra. A declaração foi dada durante um discurso na Pensilvânia na 3ª feira (9.dez.2025), quando o norte-americano celebrou ataques recentes a embarcações venezuelanas no mar do Caribe, classificados por ele como bem-sucedidos.
Segundo o governo dos EUA, as embarcações atingidas transportavam drogas em direção ao país. Trump justificou as ações afirmando que “o míssil que acaba com eles” detém o tráfico internacional. Washington também descreve Maduro como “líder terrorista global do Cartel de los Soles”, organização cuja existência é contestada pelo governo venezuelano.
Desde agosto, os EUA intensificam a pressão sobre o governo Maduro. Trump ofereceu uma recompensa de US$ 50 milhões (R$ 271 milhões) pela captura do líder venezuelano, ordenou ataques aéreos que já deixaram mais de 80 mortos e promoveu a maior mobilização naval no Caribe desde a crise dos mísseis de 1962. O fechamento total do espaço aéreo venezuelano elevou ainda mais as expectativas de uma intervenção.
As operações têm sido alvo de críticas de organismos internacionais. O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, classificou os ataques como possíveis “execuções extrajudiciais”. Um episódio ocorrido em 2 de setembro está sob investigação: um mesmo barco teria sido atingido duas vezes, para evitar sobreviventes, o que pode configurar crime de guerra.
O assessor especial da Presidência brasileira e conselheiro de política externa de Lula, Celso Amorim, afirmou ao jornal The Guardian que uma intervenção norte-americana em território venezuelano poderia transformar a América do Sul em um cenário de guerra semelhante ao Vietnã.
Ele classificou o fechamento do espaço aéreo venezuelano, ordenado por Trump no fim de novembro, como um “ato de guerra”.
A crise ganhou novos contornos após reportagem da Bloomberg afirmar que o empresário Joesley Batista, dono da JBS, viajou à Venezuela em 23 de novembro para pedir que Maduro deixasse o poder. A J&F disse ao Poder360 que não confirma o conteúdo da reportagem.
Trump teria oferecido a Maduro e a seus aliados a possibilidade de saída segura da Venezuela, desde que renunciasse. O ultimato, dado em 22 de novembro, previa que o presidente venezuelano deixasse o país em até uma semana. Maduro permaneceu no cargo e reforçou sua segurança pessoal.
As tratativas entre os presidentes incluíram, segundo relatos, pedidos de Maduro por anistia legal, suspensão de sanções e retirada de acusações internacionais. Trump rejeitou as condições.


